terça-feira, 22 de setembro de 2009
O erro do Culto dos Mártires
Em seu excelente livro A Fé que Persevera: guia essencial sobre a perseguição à Igreja (Missão Portas Abertas, 2009) Ronald Boyd-MacMillan observa que, embora chamem muita atenção e tenham um importante papel, os mártires são poucos na história do cristianismo, relativamente ao número total de cristãos. É uma observação muito interessante, especialmente por estar presente em um livro cujo principal objetivo é fazer um retrato da perseguição aos cristãos no mundo de hoje. Enquanto a Igreja conta com um número relativamente pequeno de mártires, conta também com um número enorme de cristãos que de uma forma ou de outra sofreram ou sofrem alguma forma de perseguição. O argumento final do autor, aliás, é de que qualquer um que seja de fato cristão irá experimentar alguma forma de perseguição, do mundo, do diabo ou da carne. Já o número reduzido de mártires não se deve ao fato de os martirizados terem sido mais ou menos dedicados na obra do Senhor do que os demais. Deve-se à escolha soberana de Deus. Estevão, o primeiro mártir, não testemunhou mais ou menos de sua fé do que Pedro, Paulo, ou qualquer personagem do Novo Testamento no mesmo período. Aprouve a Deus livrar Pedro e Paulo das prisões, naufrágios e execuções, enquanto aprouve a Deus que Estevão marcasse com seu sangue a trajetória do cristianismo naquele momento. Devemos estar dispostos a sofrer por Cristo, a compartilhar de seu sofrimento, tomar a nossa cruz e segui-lo. Mas penso que devemos estar igualmente alegres com os livramentos que Deus nos provê, e especialmente fugir da falsa impressão de que somente uma vida cheia de sofrimentos e dificuldades é digna aos olhos do Pai. Penso que essa é mais uma manifestação do evangelho de obras e desempenho, que nada mais é do que um falso evangelho, que retira a graça de um Deus de amor e a substitui pelos esforços de seres humanos diante de um Deus distante, contemplativo e indiferente, ou de um pai malvado que faz cobranças que não podemos cumprir. Quando estamos empenhados em servir, uma vida de sofrimentos por amor de Cristo não é menos nobre do que uma vida de livramento. Quando estamos empenhados em servir, tanto um como o outro vem do Senhor.
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