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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mais sobre as eleições

Ontem o candidato à presidência José Serra foi vítima de um ato de agressão enquanto fazia campanha no Rio de Janeiro. O episódio gerou manchetes, e é lamentável notar a quantidade de comentários na linha “bem feito, ele estava procurando”. Muitas vezes os comentários começam por “sou contra qualquer forma de violência”, e acabam por dizer “mas ele procurou”. Ou seja, culpam a vítima.
É lamentável também observar as teorias da conspiração, os comentários na linha “foi armação, estão apelando”. A justiça humana em nosso sistema democrático parte de um princípio: todos são inocentes até que se prove o contrário.
Há pessoas defendendo com unhas, dentes e palavrões o atual governo. Não penso que seja um mérito de Dilma, Lula ou do PT. Eles não inventaram o Brasil, não inventaram os brasileiros e nem muito menos os seres humanos. Não penso que seja privilégio de um partido, de uma pessoa ou de uma eleição que algumas pessoas (quero acreditar que não sejam tantas assim) ajam dessa maneira. Acredito que esse seja um comportamento de raízes muito mais profundas, e cuja solução passa por outro caminho.
Deus instituiu autoridade sobre os governantes, mas não lhes entregou a tarefa de transformar o homem pecador. Essa é uma tarefa que somente o Espírito Santo pode fazer, e a Igreja é seu instrumento nessa tarefa. É claro que políticos cristãos fazem parte desse grupo, enquanto que os políticos que não são cristãos estão em falta com Deus, como toda pessoa que deixa de lhe amar acima de todas as coisas.
Deus quer um mundo restaurado, este mundo em que estamos, e não apenas um mundo espiritual, etéreo e abstrato. Acredito que a política, entre outras tantas e infindas atividades, pode dar sua contribuição, embora não seja o caminho com “C” maiúsculo. Cristãos podem e devem contribuir para um mundo segundo a vontade de Deus, agindo nas mais diferentes áreas.
Por esta razão digo que há formas corretas e erradas de fazer política. E o amor por Deus e o amor pelo próximo devem pautar todas as coisas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Eleições

Lamento profundamente pelo resultado das eleições presidenciais do Brasil em 2010, seja qual venha a ser o vencedor delas.
Acredito que durante o primeiro turno ficou bem claro que entre os principais candidatos (Dilma, Serra, Marina e Plínio) havia muito pouca reflexão sobre um futuro para o Brasil. Marina acredita em um Brasil líder no desenvolvimento sustentável; admiro sua posição nessa área, e por isso ela teve meu voto. Plínio acredita em uma guinada para o Socialismo; não considero o Socialismo uma opção viável ou até mesmo desejável, e por isso não lhe dei meu voto. Mas lamento que este candidato tenha sido identificado como um mero piadista por muitos; suas idéias são sérias, mesmo que discordemos delas.
Dilma e Serra passaram para o segundo turno. Não importa que ambos se ataquem com tudo o que tem, a verdade é uma só: nenhum apresenta um projeto para o Brasil. Nenhum tem em mente (ou ao menos não manifesta) qual Brasil deseja construir. Suas propostas visam atender ao imediato: aumento de salários, empregos, obras e mais obras, projetos de assistência social (de caráter duvidoso).
Acho lamentável que os postulantes ao cargo mais elevado da política brasileira pensem somente em questões imediatistas. Acho lamentável que tantos evangélicos pareçam querer discutir dicotomias a essa altura do campeonato, e tenham uma visão tão distante de tudo o que nos rodeia e realmente importa. Realmente, a religião evangélica chegou ao Brasil, mas a Reforma ainda parece estar muito distante.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Jó e Brás Cubas

Recentemente estive relendo Memórias Póstumas de Brás Cubas, um dos meus livros favoritos e um dos poucos (talvez o único) que li na escola e de que realmente gostei. A curiosidade de reler o livro veio após assistir na televisão ao filme (muito bom) adaptado a partir dele.
Memórias Póstumas chama minha atenção de diferentes maneiras, mas eu gostaria de me concentrar em uma delas: a meu ver Machado de Assis faz um retrato brutal e realista da vida: os anos de Brás Cubas passam rapidamente e chegam ao fim sem que qualquer propósito especial tenha sido alcançado, sem que nenhum sentido para sua existência tenha sido definido. Ele nasce, vive e morre sem desenvolver seu emplastro, sem casar, sem ter filhos, sem virar ministro... A seu enterro comparecem poucas pessoas e de sua memória provavelmente pouco restaria no mundo real.
É um retrato tremendamente melancólico, e acho que minha professora de literatura não soube explorá-lo, talvez porque compartilhasse da falta de respostas do autor e do personagem. Brás Cubas busca encontrar um sentido para sua vida em alguma realização ou em alguma filosofia mas não encontra. Assim, acredito que as palavras de Machado de Assis foram proféticas (embora talvez isso tenha sido involuntário): o homem está perdido, e somente em Deus está seu descanso.
Agora estou lendo Jó. Acredito que as duas leituras se complementam. Em termos de literatura, Jó oferece algo com que Machado de Assis podia somente sonhar em alcançar. Em termos de profundidade também.
O livro de Jó oferece um panorama daquela que acredito ser uma das perguntas mais sinceras que alguém pode filosoficamente propor: por que sofremos?
Durante a maior parte do livro os amigos de Jó oferecem uma resposta: o sofrimento vem das escolhas que fazemos, como uma punição divina por nossos desvios de conduta. Embora essa resposta não esteja necessariamente errada, Jó demonstra que seu alcance é limitado: há sofrimento não ligado ao pecado; o justo também sofre nesta vida.
Além de demonstrar que o sofrimento não está necessariamente ligado ao pecado (o que pode ser um alívio para algumas mentes machucadas pela culpa) e muitas outras coisas, acredito que o livro de Jó oferece mais uma lição: a vida, mesmo com todas as suas aparentes contradições, dores e decepções tem um propósito porque existe um Deus criador da vida. Essa é uma verdade que Brás Cubas teria alívio em descobrir. E é a mensagem que devemos pregar.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Saulo, por que me persegues?

Essa é uma frase de uma profundidade talvez não percebida por muitos que passam por ela quando lêem o livro de Atos dos Apóstolos. Jesus, agindo soberanamente como Deus que é, intervém na vida de Paulo para o transformar de fariseu e perseguidor de cristãos em apóstolo e sofredor por Cristo. E nesse momento profere a frase: “por que me persegues?”
A rigor, Paulo poderia objetar contra a declaração: Paulo nunca perseguiu a Cristo; ele perseguiu os cristãos! Tanto quanto a Bíblia nos conta, Paulo nunca havia estado com Jesus até aquela data. Talvez mal tenha ouvido falar de seu ministério, antes de sua glorificação. Mas Jesus não colocou as coisas em outros termos, ele disse “me persegues”.
Jesus identifica a perseguição aos cristãos como uma perseguição a si mesmo. Ao olhar para a vida de Paulo, ele não via um homem perseguindo seus seguidores, mas alguém perseguindo a ele mesmo. Esse é um detalhe de enorme importância, e acredito que muitas lições podem ser tiradas dele. Aqui vão algumas:
- Cristo sofre conosco. Nossos sofrimentos podem ser agudos, frustrantes, cansativos, o que tiverem que ser. Deus nunca nos prometeu uma vida sem sofrimento. Mas Jesus nos promete que não sofremos sozinhos.
- Um cristão é a coisa mais parecida com Cristo a que temos acesso nesse mundo. Por mais imperfeitos que sejamos, somos parte do corpo de Cristo. Cristo se identifica conosco.
- Baseado no último ponto: quando um cristão sofre, Cristo sofre com ele. A aplicação disso deveria ser: não podemos suportar o sofrimento de outro cristão. Deveríamos fazer de tudo para aliviar esse sofrimento. E não deveríamos nós mesmos fazer sofrer nossos irmãos. Fazer sofrer outro cristão equivale a fazer Cristo sofrer. Em outras palavras, deveríamos evitar o sofrimento de outros cristãos, especialmente quando esse sofrimento parte de nós mesmos.

terça-feira, 23 de março de 2010

Institutas

Resolvi tomar vergonha e estou lendo As Institutas da Religião Cristã, tida, creio que universalmente, como a principal obra do reformador francês João Calvino. Sempre tive um certo problema com isso: ser um calvinista que nunca leu as Institutas.
Em Agosto de 2005 comprei uma edição abreviada desse livro, Ensino Sobre o Cristianismo, publicada pela PES. Foi uma leitura de grande importância para mim. Antes disso eu havia ganho uma edição em inglês de meu avô (que por sinal não é cristão – Deus trabalha como quer e não há nada que o impeça). Naquela época fui vencido pelo inglês muito rebuscado e essa edição ficou na prateleira mesmo, esperando na fila enquanto eu lia outras coisas.
Durante um bom tempo aguardei o lançamento de uma nova edição das Institutas em português (a edição antiga era difícil de achar e, por conta da tradução quase que direta e literal do latim, mais difícil ainda de ler), sempre recebendo notícias de que o Rev. Odayr Olivetti estava trabalhando em uma tradução a partir do francês. Em julho de 2007 comprei essa edição, edição especial com notas para estudo e pesquisa, publicada pela Editora Cultura Cristã, e comecei a ler. Porém, por conta do mestrado e de outras coisas, acabei deixando ela na fila também. Agora estou no meio da leitura.
Quando digo “no meio”, digo quase que literalmente. A edição em questão é dividida em 4 livros, o que, aliás, é muito prático: Institutas é um calhamaço de impor respeito, e leva-la inteira na mochila seria um pouco complicado. Desse jeito só preciso levar um quarto, o que é muito melhor. Há algum tempo, no segundo semestre de 2008, li quase todo o livro 4 por conta de minha dissertação. Agora estou no início do livro 2. Assim sendo, posso dizer que já li praticamente metade das Institutas!
Institutas não é um bicho de sete cabeças. João Calvino é uma daquelas pessoas que pouca gente leu, mas de quem todos gostam de falar, geralmente mal. O livro é na verdade uma benção: a erudição e principalmente a piedade (definida pelo próprio Calvino como “temor do Senhor”) estão presentes em cada linha. Embora existam momentos em que Calvino aborda questões teológicas e filosóficas um pouco distantes de nosso dia a dia, o grosso do livro é uma exposição bíblica que, além de fiel, é familiar para qualquer cristão que ame as Escrituras.
Acredito que o assunto que mais se destaca até aqui é a soberania e o amor de Deus. Embora em momento algum a teologia de Calvino tire do homem sua consciência e sua responsabilidade como indivíduo, o livro destaca que “sem Deus nada podemos fazer”. O Deus que Calvino encontra é justo, santo e terrível para o pecador. Mas é também amoroso, nos escolhe, nos salva de nossa natureza pecaminosa e está sempre preocupado conosco. É um Deus que prepara boas obras para que andemos nelas e num gesto de bondade para além de toda compreensão nos retribui como se essas boas obras fossem nossas! Espero no futuro poder discorrer com mais calma a respeito de algumas questões relacionadas a isso.
É uma benção realmente poder ler as Institutas. A benção de ser lembrado a respeito desse Deus que realiza em nós essa maravilhosa obra de salvação.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O leão, o leopardo, a píton e o kintano

Ontem estive lendo um livro do missionário Ronaldo Lidório onde ele conta uma historia folclórica dos Konkombas, povo do noroeste africano entre o qual ele trabalhou por vários anos. A história fala a respeito do leão, do leopardo, da cobra píton e de um pequeno grilo chamado Kintano. O conto chegou aos seus ouvidos quando os Konkombas ouviram o pastor Lidório falando a respeito do Diabo, que “vem para matar, roubar e destruir”. Vou contar a história de maneira resumida (e fazendo minhas adaptações):
Havia em uma floresta três lideres: o leão, o leopardo e a píton. Cada um tinha suas virtudes e seus defeitos: o leão era calmo e sábio, mas maníaco por limpeza; o leopardo era sempre bem-humorado e procurava ver o lado positivo das coisas, mas odiava quando alguém o fitava; a píton estava sempre disposta a ajudar os animais menores e mais fracos, mas por ser baixa, tinha baixa auto-estima, e não suportava ser pisada pelos outros. Apesar de seus defeitos os três eram muito admirados pelos outros animais. Com o tempo esses defeitos passaram a ser ignorados, ou até considerados pequenas virtudes.
Um dia os três líderes precisaram se reunir, pois um grupo de hienas ameaçava ocupar aquela parte da floresta. Após muita discussão, os três decidiram fazer uma pausa para descansar. Nesse momento, enquanto os líderes dormiam, o pequeno grilo se escondeu debaixo da areia, como costumava fazer nas horas mais quentes do dia. Ao se enterrar ele jogou um pouco de areia no rosto do leão, que acordou furioso:
- Vocês sabem que eu odeio sujeira! Gritou ele fitando o leopardo, supondo que aquilo fosse uma brincadeira de mau gosto do colega.
- Você sabe que eu odeio ser fitado! Rosnou o leopardo.
Os dois começaram a lutar, e nisso pisaram na píton.
- Vocês sabem que odeio ser pisada!
Os três líderes lutaram entre si e acabaram matando um ao outro. O grilo, por sua vez, se desenterrou da areia e foi embora para outro lugar, sem que ninguém houvesse ao menos notado sua presença. Mais tarde, ao chegarem ao local, os outros animais não podiam entender como três lideres tão bons podiam ter se matado daquela maneira.
A moral da historia, segundo os Konkombas: o diabo é como esse grilo. Ele só vem para matar, roubar e destruir.
Gostaria de acrescentar alguns pensamentos: o diabo mente, espalha a discórdia, nos faz esquecer do Deus gracioso que temos. O desejo do diabo é nossa desunião. Sua alegria é ver a igreja sucumbir aos problemas. Quando a igreja está desunida, os irmãos sem se falar e sem se entender, ele vence. Quando queremos ter nossos desejos saciados acima de qualquer coisa, e ao invés de nos unirmos para lutar contra os problemas estamos brigando entre nós, essa é uma vitória do diabo. E o mais triste: colocamos a culpa uns nos outros, enquanto ele nem é percebido.
Jesus morreu e ressuscitou para vencer nossos inimigos, incluindo o diabo. Por nós mesmos não podemos derrotá-lo, mas podemos confiar em nosso Deus que luta por nós. Que ele vença as nossas batalhas, e que nós possamos descansar nele.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amizade

Há pouco tempo estive ouvindo uma mensagem de um de meus pregadores favoritos atualmente, o pastor Mike Osborne da UPC-Orlando, cujo tema era a amizade. O pastor Osborne destaca a importância da amizade para a vida daqueles que servem a Deus, e contrasta isso com uma imagem popular do cristão como um “lobo solitário” em sua caminhada com Cristo, talvez uma imagem de origem monástica, mas certamente não bíblica. Citando os Beatles, “I get by with a little help from my friends”.
Gostaria aqui de desenvolver esse tema. A Bíblia está repleta de exemplos de amigos que juntos serviram a Deus de uma forma ou de outra: Rute e Noemi; Elias e Eliseu; Paulo e Barnabé; Pedro, Tiago e João; Davi e Jônatas; Josué e Calebe... Vejo em todos esses casos uma característica em comum: essas eram pessoas igualmente compromissadas em servir a Deus. Eram muitas vezes pessoas com diferenças de personalidade, de idade, talvez também de gostos pessoais e outras coisas que geralmente se valoriza em uma amizade hoje. Mas eram pessoas que encontraram em suas vidas um elemento fundamental em comum, que as levava a caminhar juntas apoiando-se mutuamente: seu compromisso com Deus.
Até mesmo entre Jesus e os apóstolos vemos essa amizade. Acredito que Jesus era bastante amigo de todos os 12, e de outras pessoas também. Mas ao ler os evangelhos fica claro que havia uma amizade maior de Jesus com Pedro, Tiago e João. Mesmo entre esses, percebe-se uma relação especial com cada um: João era o discípulo amado. Acredito que isso quer dizer que João era o melhor amigo de Jesus. Foi ele que esteve ao lado de Jesus até a cruz, quando os outros discípulos abandonaram o mestre. Já nos diálogos entre Jesus e Pedro noto outro tipo de amizade, aquele tipo de amizade que surge entre pessoas com diferentes personalidades: Pedro agitado, impetuoso, e Jesus calmo e ponderado, mas os dois se amando talvez exatamente por causa disso.
É notável observar também que o patriarca Abraão, chamado de “o pai da fé”, recebe do próprio Deus o título de “amigo de Deus”, mostrando o quanto a amizade é algo valoroso aos olhos do Pai.
Deus não nos fez para estarmos sós. Embora todos tenhamos a necessidade de momentos a sós com Deus uma vez ou outra (ou até muitas vezes), precisamos também de companhia em nossa caminhada. E para isso Deus envia amigos para estar o nosso lado.