Usuários online usuários online Tua Graça me Basta: setembro 2010

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Jó e Brás Cubas

Recentemente estive relendo Memórias Póstumas de Brás Cubas, um dos meus livros favoritos e um dos poucos (talvez o único) que li na escola e de que realmente gostei. A curiosidade de reler o livro veio após assistir na televisão ao filme (muito bom) adaptado a partir dele.
Memórias Póstumas chama minha atenção de diferentes maneiras, mas eu gostaria de me concentrar em uma delas: a meu ver Machado de Assis faz um retrato brutal e realista da vida: os anos de Brás Cubas passam rapidamente e chegam ao fim sem que qualquer propósito especial tenha sido alcançado, sem que nenhum sentido para sua existência tenha sido definido. Ele nasce, vive e morre sem desenvolver seu emplastro, sem casar, sem ter filhos, sem virar ministro... A seu enterro comparecem poucas pessoas e de sua memória provavelmente pouco restaria no mundo real.
É um retrato tremendamente melancólico, e acho que minha professora de literatura não soube explorá-lo, talvez porque compartilhasse da falta de respostas do autor e do personagem. Brás Cubas busca encontrar um sentido para sua vida em alguma realização ou em alguma filosofia mas não encontra. Assim, acredito que as palavras de Machado de Assis foram proféticas (embora talvez isso tenha sido involuntário): o homem está perdido, e somente em Deus está seu descanso.
Agora estou lendo Jó. Acredito que as duas leituras se complementam. Em termos de literatura, Jó oferece algo com que Machado de Assis podia somente sonhar em alcançar. Em termos de profundidade também.
O livro de Jó oferece um panorama daquela que acredito ser uma das perguntas mais sinceras que alguém pode filosoficamente propor: por que sofremos?
Durante a maior parte do livro os amigos de Jó oferecem uma resposta: o sofrimento vem das escolhas que fazemos, como uma punição divina por nossos desvios de conduta. Embora essa resposta não esteja necessariamente errada, Jó demonstra que seu alcance é limitado: há sofrimento não ligado ao pecado; o justo também sofre nesta vida.
Além de demonstrar que o sofrimento não está necessariamente ligado ao pecado (o que pode ser um alívio para algumas mentes machucadas pela culpa) e muitas outras coisas, acredito que o livro de Jó oferece mais uma lição: a vida, mesmo com todas as suas aparentes contradições, dores e decepções tem um propósito porque existe um Deus criador da vida. Essa é uma verdade que Brás Cubas teria alívio em descobrir. E é a mensagem que devemos pregar.